Dermatonotus muelleri (Família Microhylidae) é um sapo realmente incrível! É a única espécie do seu gênero e apresenta uma grande distribuição geográfica na America do Sul. No Brasil ocorre desde o Maranhão até São Paulo, estando ausente em grande parte da Amazônia e na região Sul do país. É uma espécie noturna e se alimenta preponderantemente de cupins [1].
O que torna esta espécie incrível é o fato de que tanto machos como fêmeas adultos constroem abrigos subterrâneos e realizam estivação durante a estação seca. A estivação é um estado de torpor sofrido por algumas espécies animais, geralmente associado a altas temperaturas ambientais e escassez de água [2]. Durante o processo de construção da câmara subterrânea, Dermatonotus muelleri enterra primeiro a cabeça, dobrando seu pescoço em um ângulo de 90 graus [3]. É uma das duas espécies de anuros que apresenta a capacidade de dobrar o pescoço num ângulo tão acentuado. Após o corpo todo enterrado, o sapo produz várias camadas de muco que vão protegê-lo contra ressecamento extremo durante o período de estivação .
No começo da estação chuvosa, particularmente após um dia de grande pluviosidade, os Dermatonotus muelleri emergem do solo para se reproduzir rapidamente. É uma espécie de sapo que apresenta um comportamento reprodutivo explosivo, pois eles tem pouco tempo até que as poças temporários sequem. Cada fêmea de Dermatonotus muelleri consegue depositar, em média, mais de 10 mil ovos por estação reprodutiva [4], aumentando assim o sucesso reprodutivo em ambientes com condições favoráveis muito transitórias. Os eventos reprodutivos duram em média 5 dias consecutivos.
O canto dos machos para atrair as fêmeas é grave, não modulado e longo. Pode durar até 8 segundos [5]. Quando vários machos cantam juntos, o som pode ser escutado a vários metros de distância. Seu canto domina largamente a paisagem sonora, se sobrepondo fortemente aos cantos de outras espécies.
O aparecimento repentino de centenas de indivíduos de Dermatonotus muelleri ao mesmo tempo numa determinado localidade é uma oportunidade para vários predadores oportunistas, incluindo outros sapos [6] e serpentes [7].
Registro realizado em uma área de restinga em Tamandaré, litoral sul de Pernambuco, no dia 14 de maio de 2021, um dia após grandes chuvas na região.
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